Concedi uma entrevista a jornalista Luciana Calixto, que escreve uma coluna sobre comportamento para o jornal Boqueirão (disponivel uma versão eletronica àqueles que não tem acesso ao jornal impresso), o tema desta vez é os jovens e seus pais na "balada"
Abaixo segue a materia e você poderá lê-la na íntegra clicando no título desde post.
Espero que gostem.
Beijos e até breve...
Giovana
Famílias de baladeiros
Da Redação , por Luciana Calixto
Junto à modernidade, surge a necessidade de novos padrões de comportamento, inclusive no que se refere à relação entre pais e filhos: mais aberta e franca, com maior tolerância e menor castração, beirando o conceito de amizade. O jovem passa a ter a vantagem de maior segurança emocional e divide, inclusive com seus pais, alguns de seus prazeres, como a frequência em casas noturnas e “baladas”, locais onde, juntos, pais e filhos também podem trocar experiências e impressões, como forma de aprendizado e delimitações de conduta.
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“Essa relação mais aberta entre pais e filhos facilita a comunicação e a compreensão do jovem a determinados assuntos ‘tabus’ que, há algum tempo, só tinham o conhecimento em situações fora de seu âmbito familiar”, explica a psicóloga Giovana Campanilli. “Esse novo meio gerador de comunicação proporciona maior segurança do jovem em se abrir e colocar seus desejos, suas inseguranças, aos seus pais, facilitando, portanto, seu desenvolvimento e o modo de se ver no mundo”, analisa.
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Quase todo final de semana, a designer de interiores e artista plástica Leila Soares, 44 anos, leva o “filhão” e companheiro de balada Tom Figueiredo, 28 anos, para dançar em casas noturnas da Baixada. “Na maioria das vezes, eu que o animo a sair. Nos divertimos muito juntos: já chegamos até a dançar salsa em um evento latino”, lembra. “Ir para a balada, para mim, é como uma terapia. E, quando nós saímos, não ficamos ‘grudados’ no ambiente. Conhecemos outras pessoas e compartilhamos amizades. Tem amigas minhas, inclusive, que só querem sair se ele for junto”, conta.
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Assim também é a relação das cantoras Simone Padron Alves, 44 anos, e Nataly Alves Arlindo, 21 anos. Mãe e filha saem, constantemente, para a “balada” e possuem uma relação de amizade e confiança. “Temos muitas afinidades e o mesmo gosto musical. Gostamos de sair juntas para dançar, escutar música ao vivo, até mesmo devido à nossa profissão”, explica Nataly. Ela conta que seus amigos não só aprovam sua atitude como possuem estreito relacionamento com sua mãe. “Minha mãe é minha melhor amiga e a pessoa em que mais confio no mundo. Temos liberdade para contarmos tudo a respeito do que nos acontece”.
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Simone afirma que os papéis de mãe e amiga chegam a se confundir vez ou outra: embora não seja controladora, a mãe procura zelar pelo bem-estar e pela segurança de Nataly. “Encaro com muito mais naturalidade assuntos que outros pais, por exemplo, encarariam. Mas, é claro, que apesar de não controlar minha filha, sempre procuro fiscalizá-la à distância na balada”, brinca.
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Limites de ‘papéis’
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Baseada na conhecida frase “a liberdade de um termina quando começa a do outro”, a psicóloga Giovana Campanilli alerta para a importância da preservação da individualidade de ambas as partes. “Os jovens devem ter sua individualidade respeitada e a comunicação com seus pais deve acontecer de forma espontânea, sem cobranças e sem que se sinta encurralado”, diz. “Já os pais devem conhecer e reconhecer seus limites, respeitá-los e não esquecer de que, além de amigos, os pais não deixam de ser pais e que seu papel continua sendo o de educar, orientar e limitar as atitudes e posturas dos filhos”, frisa.
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O sociólogo Cláudio dos Santos ressalta que, diante deste cenário social, muitos adolescentes fazem o papel inverso do que faziam seus pais quando "adolesciam": contestam as posturas libertárias ou anárquicas dos progenitores. “Vi, outro dia, um programa televisivo em que garotas e garotos criticavam os pais exatamente por este tipo de postura. Dizia uma adolescente: ‘detesto ver meu pai fumando maconha...’”, conta. “Existe ou parece existir uma relação muito interessante entre pais e filhos, já que a geração que hoje exerce a função de paternidade (sobretudo a de jovens adultos) foi formada em uma época de quebra de convenções, de busca da liberdade, de contestação aos valores tidos como tradicionais e, sendo tradicionais, obrigatoriamente eram "caretas", ultrapassados e até oligárquicos”, explica.
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Os principais motivos apontados que levaram pais e filhos a frequentarem juntos casas noturnas e compartilharem momentos de prazer e descontração são mudanças sociais iniciadas já na década de 60, aprofundadas nas de 70 e 80 e perdendo força a partir da de 90, que estimularam as revoluções sexual (pílula, "test drive matrimonial", visibilidade dos movimentos GLS) e feminina (luta da mulher por maior isonomia entre os sexos e novos direitos no mercado de trabalho). Outro fator importante foi o advento da chamada "adolescência tardia" ou prolongada, que caracteriza a chamada "Geração Canguru".
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Desta forma, antigamente, os pais faziam questão de que os filhos iniciassem a vida profissional assim que se tornassem adultos. Atualmente, devido à competitividade de mercado, muitas famílias de classe média e média alta preferem manter os filhos estudando por mais tempo.
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Esses jovens que continuam morando na casa dos pais fazem dela o centro de convivência entre amigos e namorados, propiciando, naturalmente, intimidade maior estabelecida, em graus diferenciados, no relacionamento entre pais e filhos.
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É uma geração muito díspare, em que grande parte pertence à "Geração F" (matéria abordada pelo Boqueirão na última semana de agosto), cujos contatos são, em sua grande maioria, meramente virtuais, enquanto outros comparecem às baladas, divididos por segmentos sócioeconômicos: as da periferia (bailes funk, por exemplo), as da classe média e as baladas dos "sem-balada" que se encontram nas esquinas, nos becos e "nos churrasquinhos de gato".
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O sociólogo Cláudio dos Santos analisa que, em princípio, a convivência de pais e filhos em situações como essa (baladas) podem ser ou não saudável, ou terem conseqüências negativas e positivas: depende muito dos pais e, em certa medida, dos filhos. “Há pais que são péssima companhia para os filhos até em casa. Ou porque dão exemplo de devassidão e imoralidade (financeira, por exemplo), porque são castradores e onipotentes ou, simplesmente, ignoram os filhos”, defende. “Assim, um pai ou uma mãe que acompanhe seu filho ou sua filha em um baile funk ou em um show de rock ou de forró podem estar ali para proteger, castrar, compartilhar ou simplesmente para curtir uma noite sem ficar ‘preso’ em casa”, diz.
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“Essa relação mais aberta entre pais e filhos facilita a comunicação e a compreensão do jovem a determinados assuntos ‘tabus’ que, há algum tempo, só tinham o conhecimento em situações fora de seu âmbito familiar”, explica a psicóloga Giovana Campanilli. “Esse novo meio gerador de comunicação proporciona maior segurança do jovem em se abrir e colocar seus desejos, suas inseguranças, aos seus pais, facilitando, portanto, seu desenvolvimento e o modo de se ver no mundo”, analisa.
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Quase todo final de semana, a designer de interiores e artista plástica Leila Soares, 44 anos, leva o “filhão” e companheiro de balada Tom Figueiredo, 28 anos, para dançar em casas noturnas da Baixada. “Na maioria das vezes, eu que o animo a sair. Nos divertimos muito juntos: já chegamos até a dançar salsa em um evento latino”, lembra. “Ir para a balada, para mim, é como uma terapia. E, quando nós saímos, não ficamos ‘grudados’ no ambiente. Conhecemos outras pessoas e compartilhamos amizades. Tem amigas minhas, inclusive, que só querem sair se ele for junto”, conta.
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Assim também é a relação das cantoras Simone Padron Alves, 44 anos, e Nataly Alves Arlindo, 21 anos. Mãe e filha saem, constantemente, para a “balada” e possuem uma relação de amizade e confiança. “Temos muitas afinidades e o mesmo gosto musical. Gostamos de sair juntas para dançar, escutar música ao vivo, até mesmo devido à nossa profissão”, explica Nataly. Ela conta que seus amigos não só aprovam sua atitude como possuem estreito relacionamento com sua mãe. “Minha mãe é minha melhor amiga e a pessoa em que mais confio no mundo. Temos liberdade para contarmos tudo a respeito do que nos acontece”.
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Simone afirma que os papéis de mãe e amiga chegam a se confundir vez ou outra: embora não seja controladora, a mãe procura zelar pelo bem-estar e pela segurança de Nataly. “Encaro com muito mais naturalidade assuntos que outros pais, por exemplo, encarariam. Mas, é claro, que apesar de não controlar minha filha, sempre procuro fiscalizá-la à distância na balada”, brinca.
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Limites de ‘papéis’
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Baseada na conhecida frase “a liberdade de um termina quando começa a do outro”, a psicóloga Giovana Campanilli alerta para a importância da preservação da individualidade de ambas as partes. “Os jovens devem ter sua individualidade respeitada e a comunicação com seus pais deve acontecer de forma espontânea, sem cobranças e sem que se sinta encurralado”, diz. “Já os pais devem conhecer e reconhecer seus limites, respeitá-los e não esquecer de que, além de amigos, os pais não deixam de ser pais e que seu papel continua sendo o de educar, orientar e limitar as atitudes e posturas dos filhos”, frisa.
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O sociólogo Cláudio dos Santos ressalta que, diante deste cenário social, muitos adolescentes fazem o papel inverso do que faziam seus pais quando "adolesciam": contestam as posturas libertárias ou anárquicas dos progenitores. “Vi, outro dia, um programa televisivo em que garotas e garotos criticavam os pais exatamente por este tipo de postura. Dizia uma adolescente: ‘detesto ver meu pai fumando maconha...’”, conta. “Existe ou parece existir uma relação muito interessante entre pais e filhos, já que a geração que hoje exerce a função de paternidade (sobretudo a de jovens adultos) foi formada em uma época de quebra de convenções, de busca da liberdade, de contestação aos valores tidos como tradicionais e, sendo tradicionais, obrigatoriamente eram "caretas", ultrapassados e até oligárquicos”, explica.
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Os principais motivos apontados que levaram pais e filhos a frequentarem juntos casas noturnas e compartilharem momentos de prazer e descontração são mudanças sociais iniciadas já na década de 60, aprofundadas nas de 70 e 80 e perdendo força a partir da de 90, que estimularam as revoluções sexual (pílula, "test drive matrimonial", visibilidade dos movimentos GLS) e feminina (luta da mulher por maior isonomia entre os sexos e novos direitos no mercado de trabalho). Outro fator importante foi o advento da chamada "adolescência tardia" ou prolongada, que caracteriza a chamada "Geração Canguru".
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Desta forma, antigamente, os pais faziam questão de que os filhos iniciassem a vida profissional assim que se tornassem adultos. Atualmente, devido à competitividade de mercado, muitas famílias de classe média e média alta preferem manter os filhos estudando por mais tempo.
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Esses jovens que continuam morando na casa dos pais fazem dela o centro de convivência entre amigos e namorados, propiciando, naturalmente, intimidade maior estabelecida, em graus diferenciados, no relacionamento entre pais e filhos.
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É uma geração muito díspare, em que grande parte pertence à "Geração F" (matéria abordada pelo Boqueirão na última semana de agosto), cujos contatos são, em sua grande maioria, meramente virtuais, enquanto outros comparecem às baladas, divididos por segmentos sócioeconômicos: as da periferia (bailes funk, por exemplo), as da classe média e as baladas dos "sem-balada" que se encontram nas esquinas, nos becos e "nos churrasquinhos de gato".
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O sociólogo Cláudio dos Santos analisa que, em princípio, a convivência de pais e filhos em situações como essa (baladas) podem ser ou não saudável, ou terem conseqüências negativas e positivas: depende muito dos pais e, em certa medida, dos filhos. “Há pais que são péssima companhia para os filhos até em casa. Ou porque dão exemplo de devassidão e imoralidade (financeira, por exemplo), porque são castradores e onipotentes ou, simplesmente, ignoram os filhos”, defende. “Assim, um pai ou uma mãe que acompanhe seu filho ou sua filha em um baile funk ou em um show de rock ou de forró podem estar ali para proteger, castrar, compartilhar ou simplesmente para curtir uma noite sem ficar ‘preso’ em casa”, diz.
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